É estranho como as coisas acontecem nas
nossas vidas. Hoje salvei uma vida. Vocês devem estar imaginando: nossa, ela
salvou a vida de uma pessoa. Mas o mais curioso é que salvei a vida de um gato.
Hoje acordei com vontade de dormir mais um
pouco, mesmo sabendo que já tinha passado do horário normal de sair da cama. Um
dia desses que você quer ficar na cama o dia inteiro. Mesmo assim, levantei.
Fui tomar café e escutei um miado de um gato, pensei: “Alguma gata teve
filhotes aqui por perto”.
Fui olhar de onde estava saindo aquele
miado, quase que pedindo por socorro. Achei e qual foi minha surpresa. Tinha um
gato entre o muro e a parede. O espaço entre a parede e o muro não era mais do
que 10 centímetros e a parte de cima do muro estava fechada com tijolos, nas
laterais foi colocada argamassa. Como aquele gato entrou ali, não sei. Só tinha
dois buracos no muro que estavam longe do lugar de onde estava miando.
Terminei de tomar o meu café. Não tinha como
deixar aquele gato ali, miando até morrer. Ficaria com um peso na consciência.
Não seria humana.
Tentei por várias vezes enfiar a mão, mas
não conseguia nem ver o gato, qual a posição correta de onde ele estava, tudo
era escuro lá dentro. A minha única alternativa era pular o muro, entrar no
quintal do vizinho.
Lá vou eu, pulei o muro. Fui até o ponto de
onde saía os miados. Mas como tirar? Tinha um buraco no muro, mas era um pouco
longe do local onde ele poderia estar. Tentei abrir outro com um pedaço de
madeira, de tronco de árvore mesmo (pequeno), mas nada. Ajoelhei, chamava o
gato e o gato respondia cansado.
Olhei ao redor e nada. Olhei para os meus
joelhos, já machucados e vi uma solução. A pedra que estava debaixo dos meus
joelhos era a única saída. Não era grande, mas pesada o suficiente para abrir
outro buraco no muro. Comecei a bater, abri uma fenda; bati novamente, um
buraco pequeno abriu-se. Fui com a mão. O buraco ficou maior ainda. E chamei
novamente pelo gato.
Mas percebei que entre ele e o pedaço do
muro que abri, tinha uma coluna, não dava para puxá-lo. Então fui pelo outro
lado e comecei a bater no muro novamente com a pedra. Consegui abrir outro
buraco e consegui ver o rabo do bichano. Então fui com as mãos e peguei nas
costas dele. O gato parecei desesperado de dor, pois miou tão forte como se
estivesse querendo fugir daquela mão.
Nesta minha loucura, respondi apenas para o
gato: “está doendo mais em mim do que em você”. Consegui puxar pelo couro das
costas, devagar. E no final, tirei ele daquele buraco.
O gato era branco, mas estava tão magro e
sujo. Mesmo assim, saiu correndo, nem sequer parou.
Esperar que o gato me agradecesse pelo que
fiz por ele. Por conseguir mais uma vida das sete vidas que ele tem. Não me
passou pela cabeça isto. Apenas chorei em saber que salvei uma vida, mesmo
sendo de um animal, de um gato.
Resultado disto tudo: um muro quebrado em
dois lugares, meus pés e joelhos esfolados, braços cansados pelo esforço e um
sorriso misturado com lágrimas.
O mais engraçado quando já estava indo pular
novamente o muro para voltar ao meu cantinho, um rapaz no portão me chamou,
perguntando se era conhecida do dono da casa. Respondi: moço pulei o muro para
tirar um gato que estava preso. Sabe o que o rapaz respondeu-me? Disse apenas:
mas o portão sempre fica aberto e ele abriu o portão pra mim. Não sabia se
sorria ou se chorava.
Este foi um sábado diferente de todos e vou
me lembrar para o resto da minha vida.
Só tenho na mente várias perguntas: como
aquele gato conseguiu entrar naquele espaço tão pequeno? Como conseguir tirar
ele de lá?
JDM - 29/10/2011 - 13h30